sexta-feira, 31 de julho de 2009

Tempos de escola



Minha relação com a educação começou no ano de 2005 quando me matriculei no curso de pedagogia na universidade São Marcos, até hoje não sei por que decidi ser professor se meu maior sonho era e ainda é ser jornalista, talvez o amor que tenho hoje pela educação naquela época não era tão importante como é hoje, mas tinha o sonho de fazer a diferença na vida de pessoas simples e também na sociedade. Logo no primeiro semestre fui convidado por uma colega chamada Mônica que então me convidou para fazer um trabalho social na ONG onde ela trabalhava, era para ficar um dia só, mas acabei ficando por lá quase 1 mês, aprendi tantas coisas, conheci a realidade de cada criança, suas casas, seus pais e um pouco da história de vida de cada um, me revoltei em ver  que as prefeituras mapeavam as favelas e prometiam casas aos moradores e depois sumiam sem dar qualquer resposta a comunidade.

Meses depois já no segundo semestre do curso tive minha primeira oportunidade de trabalhar como estagiário, eu era auxiliar de classe em um colégio particular no bairro do Butantã, zona oeste de São Paulo, o colégio se chama: CCZ - Colégio Costa Zavagli. Nessa época estudava de manhã e entrava às 13h no trabalho, posso dizer sem dúvida alguma que esse foi o melhor lugar em que trabalhei, lá aprendi a fazer projetos pedagógicos, lá participei da minha primeira reunião pedagógica, lá também aprendi que com adolescentes o papo tem que ser mais serio, e também recebia elogios das professoras, me lembro de uma professora chamada Janaína, lindíssima, eu era louco por ela, mas nunca tive coragem de dizer nada a ela. Nessa época também comecei a questionar alguns métodos adotados pela escola, claro que tinha muito cuidado em expor minhas críticas e idéias, mas nunca deixei de falar. Aos poucos fui ganhando meu espaço e a confiança da direção escolar, dos meus colegas e dos alunos que modéstia a parte me adoravam, lá tive minha querida e inesquecível professora Dalva que sempre que podia me ajudava com seus conselhos, mas infelizmente algum tempo depois ela veio a falecer.

Infelizmente ninguém vive só de amor e beijinhos, tinha que ganhar mais e comecei a distribuir meus currículos pela internet e também aos meus colegas de faculdade, logo fui chamado para uma entrevista em uma escola de educação infantil, felizmente passei na entrevista e iria iniciar depois das férias de fim de ano, fiquei feliz por um lado e triste por outro porque ia deixar o lugar que me projetou para essa complicada profissão. Lembro-me quando sai do colégio vários alunos vieram com cartinhas, presentes abraços e beijos, chorei muito e fiz a promessa de um dia voltar.

Dia 2 de Fevereiro de 2007 o dia em comecei minha vida como um professor de verdade, tinha minha sala, minha lousa e principalmente meus alunos, alunos pequenos, que choravam, que usavam fraldas, que faziam coco, que gorfavam e que não paravam de chamar pelas suas mamães, fiquei assustadíssimo quando percebi que estava trabalhando no berçário com crianças de um ano a dois anos de idade, eram 18 bebês fofos, mas muito chorões. Pensei rapidamente em desistir e procurar outra escola para trabalhar, pedi conselho aos meus pais que me incentivaram a permacer no meu trabalho. Tive várias dificuldades no início, principalmente quando tinha que trocar uma criança, imagine um negrão de 1, 80 trocando um bebê? Pois bem esse era eu, não é fácil trocar um bebê, mas com o tempo fiquei craque, eu batia o maior papo com os bebês na hora da troca, alguns me olhavam com uma carinha de duvida, outros pareciam que entendiam e papeavam comigo (risos), mas a parte que eu mais gostava era a hora de brincar, eu era pior que eles, era um crianção. Nunca vou esquecer das histórias que contava a eles antes de eles irem dormir, nunca irei esquecer das tantas vezes que os segurei em meus braços, nunca esquecerei as mordidas que tomava na perna e nos braços, mordidas que doíam muito, também nunca vou esquecer de quando alguns deles gorfavam na minha roupa ou simplesmente faziam coco quando estavam sentados no meu colo, que triste!

Mas como nem tudo é só alegria tinha que conviver com o preconceito por ser o único homem professor e ainda negro, ouvi muitos pais se queixando que não gostavam da idéia de um homem cuidando dos seus bebês.

Aprendi a amar a educação, me entreguei de corpo e alma a profissão, questionava, estudava muito, fiz vários cursos voltados a educação, mas com o tempo minha relação com a educação foi se desgastando, então depois de ter esse tipo sentimento tranquei a faculdade no penúltimo semestre, três meses depois me desliguei da escola. Nunca vou esquecer as crianças da sala 3, do berçário, esses pequenos marcaram minha vida e eles tem um lugar especial no meu coração.

Em agosto de 2008 fui trabalhar em um abrigo, é lá vivi a pior experiência de toda minha vida, trabalhei lá 3 meses e foi o suficiente para eu nunca mais querer seguir na profissão, lá eu apanhei de uma educanda, apanhei de pau de uma menina de 12 anos que depois disse que não ia com minha cara e que dizia querer me matar. Chorei muito quando enterrei a sete palmos qualquer possibilidade de voltar a ser professor.

Passei no vestibular para a faculdade de jornalismo e em breve as aulas começam, estou ansioso porque estarei começando a realizar um antigo sonho, o de ser jornalista. Mas nunca esquecerei de todos os momentos que vivi como professor, da minha entrega a essa causa tão esquecida pelas autoridades e principalmente pela sociedade, que desconhecem  o direito que tem de atuar de forma ativa na escola, direito que a constituição federal dá a cada cidadão. Felizmente a educação é o único meio que temos de mudar a sociedade, de mudar a cabeça dessa sociedade omissa e quase sempre incoerente.

Essa foto do post foi tirada em uma quarta-feira no ano de 2007 quando trabalhei na escola e educação infantil.

“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”.
João Guimarães Rosa

Valeu Galera.

Léo Souza

19 comentários:

Anônimo disse...

Rapaz, valeu a pena ter acompanhado todo o texto, uma digna história de um cidadão brasileiro, que não mede esforços para alcançar o que quer, mediante as dificuldades.

Trabalhar com crianças é inspirador, principalmente para quem convive diariamente e aprende com elas a forma mais pueril de viver.

E o que mais me chamou atenção foi de você ter quebrado dois tabus: o de ser um homem trabalhando com crianças e de calar a boca de muita gente por ser negro, o que feliz e infelizmente deve ser digno de nota no nosso país.

Parabéns e obrigado
Abraços!
Leandro Merlllin, do Olhar de Sal de Jack [http://olhardesaldejack.blogspot.com]

Vini e Carol disse...

Primeiramente, obrigado pelos elogios, tento fazer o meu melhor para meus leitores.

Agora, vamos lá.
Cara, dificuldades todos passamos! E você tentou de todas as formas passar por cima, mas se seu sonho é ser Jornalista, nem devia ter tentado! Por maior que seja seu amor pela educação.

Gostei de ler a história da escolinha em 2007, e imagino a dificuldade que você teve, não por ser negro (plena estupidez, idiotice, e outras coisas mais alguma pessoa não deixar seu filho só pq uma pessoa é negra), e sim por ser homem, entendo o que vc passou, mas entendo os país por ficarem com um pé atrás, pq realmente é dificil um homem saber cuidar de criancinhas, eu mesmo não tenho paciência.

Sobre você ter apanhado na outra escola, cara, não se deixe vencer pelas maldades alheia!
Você parece ser um cara super inteligente e determinado, e a vida é cheia de obstáculos, as vezes vale mais dar um sopapo na aluna que te bateu, do que chorar por isso!

Somos homens, temos que ser os melhores, os mais fortes sempre! Para que nossos futuros filhos não sofram!

Enfim, felicidades pra vc na faculdade de Jornalismo! Agora vc esta aonde quer, basta ter força de vontade que com toda certeza do Mundo vencerá!

Um abraço.

Beatriz disse...

Nossa, seu post foi incrivel e envolvente, que coragem de largar a faculdade e correr atras do seu sonho, mas o q importa não é o diploma e sim o aprendizado, e pelo visto vc viveu 30 anos de profissão em 3 neh!!
Boa sorte com o Jornalismo, sonho da maioria dos blogueiros inclusive eu!!xD
Q dê tudo certo pra vc!!
Parabéns pelo blog, mto bacana!!

Marcelo Augusto disse...

Percebi que voce foi fraca, porque se essas crianças sao assim, é porque falta alguem com força para mudar os seus pensamentos.

Acho que um dia voce voltar a a ser professor para realmente estar preparado para lidar com esses confrontos.

Parabens pelo blog.

FabioZen disse...

rande,grande camarada!Teu trabalho deve seguir de exemplo para as pessoas.Também acho que só tornaremos esse país melhor colocando a educação acima de tudo!

Diego Rodrigo disse...

Parabens por tudo que tem enfrentado em sua vida, sem dúvida tratar com a educação é algo que merece muito carinho e amor, pois se qundo a formação de crianças está em jogo a responsabilidade é muito grande.

Siga seus sonhos a todo custo.

Tati disse...

Achei linda essa sua vivência. A entrega, a decepção, o que virá depois... poxa, você tem paixão pelo que faz, e acredite: isso é o que vai te fazer firme quando as coisas complicares, e acho que já sabe disso!
Sorte na sua nova caminhada.

nana lopes disse...

é cachaça!@
Depois que a gente entra é dificil largar,kkkkkkkkkkk

Amo ser professora.Parabens

Astréia disse...

Muito interessante a sua história de vida. Você escreve bem e consegue prender o leitor, mesmo o texto sendo grande. Tudo isso porque você envolve a sua história com o contexto social, cultural, político...

Terá uma carreira brilhante como jornalista.

Também passo a te seguir!

Nat Valarini disse...

Olá, Léo!

Você nem imagina o quanto esta sua postagem/desabafo me deixou tocada...

Sempre ouço relatos de professores que me dão uma "real" das dificuldades que os mestres passam em seus trabalhos, mas tenho a certeza de que só quem vive isso na pele é que consegue ter a noção da dificuldade que o professor enfrenta.

O que mais me chamou atenção no seu texto, foi a citação do preconceito que sofreu.

Ainda há muito sentimento escondido atrás da hipocrisia neste país.

De qualquer modo, fico muito feliz em saber que você encontrou outro caminho para ser feliz e realizado profissionalmente.

Kiso!

Júlia' disse...

eiii!
passando pra te agradecer pelo comentário no meu blog e pra dar uma vasculhada no seu tbm! ;)
virei sua seguidora!
abraço!

O util do inutil disse...

Uma bela história, sinceramente não daria para trabalhar com crianças, precisa de dom e paciencia

Passa la

http://outildoinutil.blogspot.com

Beatriz Paz disse...

Parabéns, você tem uma das carreiras que eu acho mais bonitas, e uma das mais penosas também. Sua história é muito legal!
______________________
Soletra Pra Mim?
www.soletrapramim.blogspot.com

Anônimo disse...

Hahahahaha adorei o desenho, muito lindinho eu semprte fiz desenhos assim e continuo fazendo mesmo com meus 28 anos;

BLOGdoRUBINHO
www.blogdorubinho.cjb.net
www.twitter.com/blogdorubinho

Euzer Lopes disse...

Estamos no final de 2009.
E onde está este futuro educador hoje?
Sim, EDUCADOR. Mais que um professor, amar a vocação é um dom.

Fabrício Bezerra disse...

as pessoas são só professores só por amor a profissão,pelo dinheiro não dar.mas as crianças precisam mesmo de amor

FabioZen disse...

Mais que o teu blog,sou teu fã como pessoa e profissional.É muito legal e bonito ver uma entrega como a tua.Parabéns e sucesso!

Rhaíssa Morais disse...

Sempre quis ser jornalista, mas hoje em dia com a ausência do diploma tá difícil. Boa sorte no curso, pq vc é corajoso mesmo! ;D


Rhaíssa Morais

www.conteudosuspenso.blogspot.com

Dual disse...

realmentee..qe saga manoo!

mas qe bom qe agora você vai seguir o qe realmente quer e gosta..apesar de não precisar mais de certificado pra exercer essa profissão..

mas enfim..bom sorte..e kem sabe num te vejo no jornal nacional um dia?! ashuasuhashuas!

abraço!

 
Copyright 2009 Não perca as Crianças de Vista Powered by Blogger
Blogger Templates created by Deluxe Templates
Wordpress by Ezwpthemes